quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Luana oliveira

A propaganda na era vargas

A tensa relação entre o governo Vargas e a imprensa já foi destacada pela bibliografia especializada. Entretanto, predomina uma visão urdida a partir da perspectiva do aparato estatal, como se suas intenções de governantes, seus interlocutores e porta-vozes tivessem sido impostas de forma plena. Supõe-se que as propostas e ações controladoras esbarrassem numa imprensa dócil, quer por conivência e/ou interesses pouco nobres, quer pelo terror imposto pela atuação dos órgãos da censura. Sem negar a inconteste truculência do regime, o que se pretende é matizar tal visão a partir da pesquisa sistemática em algumas das revistas de caráter cultural e literário – caso da Revista Acadêmica (1933-1948), Dom Casmurro (1937-1943), Revista do Brasil (1938-1943), Diretrizes (1938-1944), por exemplo – que circularam na chamada Era Vargas (1930-1945). Trata-se de investigar se havia alguma possibilidade de fazer oposição ao projeto hegemônico, ainda que de forma enviesada e cuidadosa. Se não é o caso de afirmar a existência de uma proposta alternativa ao projeto cultural varguista, claramente delineado no decorrer no Estado Novo (1937-1945), trata-se de averiguar se nas páginas desses periódicos não houve espaço para, pelo menos, não engrossar o coro dos que defendiam os rumos políticos e culturais adotados. O que se almeja, portanto, é contribuir para tornar menos homogênea a visão dominante sobre o período.

O Estado Novo e o controle da informação
O Estado Novo tem recebido particular atenção dos historiadores. O quadro bibliográfico atual é muito diverso daquele descrito na coletânea Estado, ideologia e poder, publicada em 1982 e que se tornou um marco nos estudos sobre o período. Na apresentação, Lúcia Lippi de Oliveira afirmou:
O período conhecido por Estado Novo, que vai de 10 de novembro de 1937 (promulgação da nova Constituição) a 29 de outubro de 1945 (deposição de Vargas), permanece envolto em uma nuvem de relativo esquecimento. O espírito da redemocratização que marcou o pós-45, aparentemente, jogou uma pá de cal no período anterior, na suposição de ter sido uma época de exceção que deve ser esquecida o mais rapidamente possível. Nada melhor que o silêncio para garantir o esquecimento.

É provável que o renovado interesse pelo período relacione-se com a implantação de um novo regime autoritário em 1964, que mostrou as fragilidades das instituições democráticas do regime republicano brasileiro. Contudo, independente das motivações, o fato é que esses estão sendo analisados intensamente e sob diferentes perspectivas, como bem atestam os catálogos das editoras, as teses e dissertações de programas de pós-graduação, os colóquios e dossiês de revistas que tratam da questão.
Os meios de comunicação de massa da época têm recebido boa dose de atenção por parte de historiadores, sociólogos e especialistas da área de comunicações. Afinal, jornais e revistas ainda se constituíam em veículos privilegiados para a difusão da informação, se bem que o cinema, já há algumas décadas, e o rádio, que se difundiu exatamente nos anos 1930, também desempenhassem papel dos mais relevantes. O fato é que se multiplicam os estudos acerca de como o regime de Vargas, desde a derrubada de Washington Luís e particularmente depois da instauração do Estado Novo, procurou impor um projeto cultural e político, muito bem urdido e que teve no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP - 1939) um de seus pilares.
Durante o Estado Novo, houve um significativo esforço no sentido de justificar o regime e difundir uma imagem positiva do mesmo junto às camadas populares. A preocupação com a propaganda ficou evidente muito antes, já em 1931, quando do surgimento do Departamento Oficial de Publicidade (DOP). O órgão conheceu várias mudanças até que, em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), diretamente subordinado à presidência da República.

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